segunda-feira, 24 de maio de 2010

Congonhas será ampliado para Copa

Pacote de obras da Infraero prevê 20 novos balcões de check-in; capacidade crescerá 20%, chegando a 17,5 milhões de passageiros/ano
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) vai expandir a ala de check-in do Aeroporto de Congonhas. A ampliação do mais controverso terminal do País faz parte do amplo pacote de obras lançado pela estatal para tentar aplacar a crescente demanda do setor aéreo e atender com padrões mínimos de conforto os milhões de turistas que vão cruzar o Brasil durante a Copa de 2014.
Em fevereiro de 2012, quando a Infraero planeja entregar a nova ala, a capacidade do aeroporto vai saltar dos atuais 14,5 milhões de passageiros por ano para 17,5 milhões (20,6%), o que o consolidará como o segundo terminal aéreo do País, atrás apenas de Cumbica, em Guarulhos.
No centro do projeto, a que o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso na íntegra, estão 14 dos 16 aeroportos das 12 cidades-sede do mundial. Quase metade das 50 folhas de apresentação do plano é dedicada aos aeroportos de São Paulo. O presidente da estatal, Murilo Barboza, reconhece a importância da Copa, mas defende que a reforma dos aeroportos tenha como meta suprir o aumento da demanda do setor. "Se esse objetivo for alcançado, o evento Copa estará bem atendido", assevera. O planejamento foi elaborado com base no diagnóstico feito pela consultoria McKinsey, cujo resultado será divulgado hoje.
A intervenção em Congonhas criará 20 novos balcões de check-in, ocupando o espaço deixado pelo extinto 4.º Serviço Regional de Aviação Civil (Serac 4). A obra pode parecer tímida diante das necessidades, mas representará acréscimo de 25% sobre o total de 80 guichês existentes. Pela demanda atual, de 13,7 milhões de passageiros ao ano, é como se cada check-in do aeroporto atendesse cerca de 500 pessoas por dia. Nos dias e horários de maior movimento, as filas de espera chegam à calçada.
A estatal assegura que a ampliação não terá reflexos na operação do aeroporto, limitado em 34 movimentos (pousos ou decolagens) por hora desde a tragédia do voo 3054 da TAM, que matou 199 pessoas em 2007. "O único objetivo é oferecer conforto ao passageiro, que não quer perder tempo no check-in", afirma o diretor de Engenharia e Meio Ambiente, Jaime Parreira. "Não está prevista nenhuma mudança operacional, mesmo porque isso não compete à Infraero."
A restrição do número de movimentos em Congonhas foi determinada pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão da Aeronáutica. Consultado, o brigadeiro Ramon Borges Cardoso, chefe do Decea, ratificou a informação. "O número de movimentos permanece o mesmo e não há estudos para alterá-lo", afirmou.
A reforma do check-in de Congonhas é, de certa forma, o item final de um conjunto de obras iniciadas em 2004, que incluíram a reforma e a ampliação do terminal de passageiros, instalação de pontes de embarque (fingers, no jargão em inglês) e do estacionamento subterrâneo. A reforma é alvo de ação na Justiça por suspeita de superfaturamento.

Polêmica
Como tudo que envolve Congonhas, antes mesmo de sair do papel a obra já começa a causar polêmica. Acostumado ao caos do aeroporto, o administrador de empresas Philippe Gedeon, de 31 anos, abriu um sorriso ao tomar conhecimento de projeto de ampliação do check-in. "É ali que está o problema do aeroporto. Num dia normal, perco no mínimo 40 minutos para despachar minha bagagem", conta. "É quase o tempo de voo até o Rio, onde moro."
Vizinha de Congonhas e presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos (Abrapavaa), Sandra Assali criticou a reforma do aeroporto. "Se você imaginar que são 80 check-ins hoje e 34 movimentos por hora, acho que não tem porque aumentar. Para mim, vai significar aumento de capacidade. Isso ainda não tinha aparecido. Vejo como preocupante. É prenúncio de maior movimento. Congonhas não poderia inventar nada sem antes cumprir 100% do EIA-Rima (estudo de impacto ambiental)." No fim de 2009, a Abrapavaa ingressou com ação civil na Justiça Federal para que a Infraero cumprisse as determinações ambientais. A liminar foi concedida em parte - exige que a estatal cumpra apenas os requisitos de segurança de voo.

Um setentão em processo de mudança contínua
1936 - Inaugurado em 12 de abril, com pista de terra
Década de 40 - Início das obras das três pistas; uma foi concluída
Década de 60 - Congonhas se torna a "praia de paulista"
Década de 90 - Após o Plano Real, há sinais de saturação
2007 - Pista principal foi interditada e reformada
Fonte: O Estado de S.Paulo

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